The Art of Duo Siqueira Lima

Cecilia Siqueira (Uruguai) e Fernando de Lima (Brasil) conheceram-se durante o 2º Concurso Internacional de Violão Pró-Música, realizado pelo SESC em Caxias do Sul (2001). Fernando e Cecilia empataram em primeiro lugar. Mas o concurso marcaria outra guinada na vida e na carreira dos músicos: o surgimento do casal Fernando e Cecilia e, posteriormente, do Duo Siqueira Lima. Aclamados por público e crítica, o duo dilui as fronteiras entre popular e erudito, em impecável virtuosismo técnico-interpretativo, com poder de conquistar o público imediatamente. Para sua première na GuitarCoop, o duo apresenta um repertório eclético unindo popular e erudito, em torno do tema do nacionalismo, movimento musical de meados do século XIX que incorporou elementos indenitários da música de cada país, e floresceu ao lado de movimentos políticos que clamavam pela independência e afrontavam a supremacia da música europeia. Seus princípios estéticos baseiam-se na apropriação de manifestações populares e elementos simbólicos do folclore, com o uso de ritmos e melodias do imaginário e da cultura popular. De Enrique Granados Campiña (1867-1916), representante da música nacionalista espanhola, o duo apresenta Valsas Poéticas, composta originalmente para piano, na juventude de Granados. Dedicada ao pianista e compositor espanhol Joaquin Malats, a versão é uma transcrição para dois violões de Sérgio Abreu.

Henrique Oswald (1852-1931), é, nas palavras de Villa-Lobos, nosso “mais admirável compositor” do início do século XX, mas foi relegado a um quase esquecimento após a Semana de Arte Moderna, devido a sua estilística marcadamente europeia. Il Neige, composta em 1902 originalmente para piano, é apresentada na transcrição de Fernando de Lima para dois violões.

Heitor Villa-Lobos (1887-1959) é nosso mais idiomático compositor, criador de uma linguagem singularmente brasileira. Sua influência, do erudito ao popular, se estende até os dias de hoje e sua obra para violão figura entre as mais importantes da história do instrumento. O duo apresenta Lenda do Caboclo (1920), composta originalmente para piano, em arranjo para dois violões de João Luiz que conserva sua integridade, com novo timbre. A transcrição inédita das Bachianas Brasileiras nº 4, para dois violões, de Fernando de Lima, é gravada pela primeira vez neste disco. Composta originalmente para piano (1930-1941) e orquestrada em 1942. Hermeto Pascoal (1936), compositor, arranjador e multi-instrumentista brasileiro, apresenta uma linguagem de forte brasilidade fundida com o jazz. Bebê, gravada no seu primeiro LP no Brasil, “Música Livre de Hermeto Pascoal”, de 1976, é apresentado pelo duo com arranjo de Sérgio Assad. De Astor Piazzolla (1921-1992), Quatro Estações Portenhas, também conhecida por “Quatro Estações de Buenos Aires”, é composta de quatro tangos: embora autônomos, Piazzolla interpretava-os em conjunto, constituindo uma espécie de suíte popular. Pictórica, dá-nos a impressão de vivenciar as quatro estações da capital argentina.

O duo apresenta duas delas, de 1970: Inverno Portenho, em arranjo para dois violões de Sérgio Assad, e Primavera Portenha, transcrita para dois violões por Fernando de Lima. Em um tema tão plural quanto o nacionalismo, Duo Siqueira Lima dá uma magistral demonstração de expressividade. Mais que técnica, isso requer uma explosão que só encontra paralelo, talvez, no amor. O amor entre os violões de Fernando e Cecilia ultrapassa o acordo e transforma-se em acorde. Um diálogo de almas e culturas, unidas pela linguagem universal da música. E que busca outro amor para perpetuar-se: o ouvinte.

Paulo Martelli / Bruno Malavolta

©Duo Siqueira Lima 2016