Paulo Martelli

A Bach Recital

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Adagio 1056 – J. S. Bach

Teaser – A Bach Recital

A BACH RECITAL

O violão de 11 cordas entrou na minha vida em 2004, como um presente do luthier paulista Samuel Carvalho. Embora meu fascínio pelo alto guitar tenha sido imediato, somente em 2007 decidi dedicar-me a esse instrumento com afinco. De imediato, encantei-me com sua beleza sonora, com sua tessitura ampliada, e gradativamente tomei consciência das infinitas possibilidades de adaptações de músicas compostas para outros instrumentos. 
Inicialmente, registrei algumas experiências com o alto guitar no meu CD Miosótis, de 2006, realizando alguns arranjos influenciados pelo jazz. Posteriormente, adotei-o também para o repertório renascentista e barroco, encontrando no alto guitar um meio de realização ideal para expressar minha concepção da obra de J. S. Bach (1685-1750).

Este CD é o resultado de 10 anos de pesquisa na adaptação, transcrição e arranjo das obras solistas de J. S. Bach para o alto guitar. Desde a década de 1960, viu-se um crescimento vigoroso da Performance Historicamente Orientada, que se tornou, gradativamente, a correntemajoritária para a interpretação do repertório barroco.  Minhas interpretações de Bach, contudonão se prendem exclusivamente a esta metodologia. Considero-me aficionado por vários intérpretes do mestre alemão que, sem sombra de dúvida, produziram excelentes leituras de suas obras, mesmo anteriormente à revolução da musicologia histórica. Em minhas versões, busco fundir o conhecimento das tendências atuais à paixão dos intérpretes românticos, uma combinação difícil, porém ideal para mim. Afinal, Bach é o compositor que encontrou
o equilíbrio perfeito entre a emoção e a razão.

A maior parte da música instrumental de Bach foi composta em Cöthen (1717-1723). Entre elas estão as 3 Sonatas e 3 Partitas para violino solo, os Concertos para violino, as Invenções a duas e três vozes, grande parte de sua produção para teclado e 6 Suites para violoncelo. O presente CD é centrado neste período da produção Bachiana.

Suite BWV 1008 foi composta em Ré Menor, tonalidade que, no período barroco, esteve relacionada a sentimentos de pesar, tristeza e desalento. Os afetos descritos pelos teóricos barrocos para esta tonalidade são ratificados pela ampla utilização das figuras retóricas, especialmente as catabasis, encontradas ao longo de toda a obra. A BWV 1008 é composta de seis movimentos; curiosamente, Bach utilizou a tonalidade de Ré Maior brevemente no segundo Minuet, conferindo a este movimento um contraste sonoro muito especial. A tonalidade utilizada por mim para a realização desse arranjo, Sol Menor, é entendida pelos teóricos barrocos como capaz de despertar sentimentos similares às de Ré Menor, com base na teoria dos afetos. Nas Suites para cello, Bach demonstrou, mais uma vez, seu gênio criativo: ao empregar um número reduzido de notas, compôs uma música profunda, perfeita e íntegra, sem a necessidade de quaisquer acréscimos. Por isso mesmo, a maior dificuldade em adaptar a Suite BWV 1008 para o alto guitar consiste em recriar o contraponto e completar harmonia implícita no seu discurso, sem destruir a pureza e equilíbrio da composição original.

No conjunto de obras para violino solo, Bach presta uma homenagem musical ao compositor italiano Arcangelo Corelli (1653-1713), ao utilizar as formas Sonata da Chiesa e Sonata da Camara, gêneros que garantiram a Corelli um lugar no panteão dos grandes compositores da história. A Sonata da Chiesaa priori, era destinada a ser executada em cerimônias religiosas. Sua estrutura é bem simples, geralmente em quatro movimentos contrastantes: lento, rápido (fugal), lento e rápido. A abertura da primeira Sonata BWV 1001 é um Adagio, cuja função é servir de prelúdio para uma das Fugas mais famosas de Bach. O terceiro movimento é uma Siciliana de clima melancólico e pastoral. A obra termina com um Presto em moto perpetuo, no qual o compositor explora a potencialidade virtuosística do violino. Esta Sonata é considerada uma das obras mais perfeitas e equilibradas de J. S. Bach, onde predomina o estilo italiano. O arranjo para alto guitar mantém a tonalidade de Sol Menor, complementando as harmonias e contrapontos do original para violino. Ao realizar o arranjo do segundo movimento (Fuga), utilizei como texto base a versão de Bach para órgão BWV 539, o que me permitiu ampliar e diversificar as possibilidades de transcrição em diversas passagens da obra.

Adagio BWV 974 foi adaptado para alto guitar a partir de um arranjo para cravo de J. S. Bach do Concerto para oboé e orquestra em Ré Menor de Alessandro Marcelo (1673-1747). É importante destacar que Bach nos deixou – além de seu incomparável corpus composicional – vários arranjos de obras dos mestres do barroco italiano destinados, sobretudo, ao órgão e ao cravo. Esses arranjos são excelentes exemplos do exímio trabalho de arranjador realizado por Bach. Não raro, ele mostrou uma destreza quase miraculosa, reduzindo para um só instrumento, a massa orquestral e o instrumento solista. Neste movimento, Bach transfere o acompanhamento orquestral para mão esquerda, que executa os acordes em arpejos, enquanto a mão direita sola a melodia do oboé, genialmente ornamentada pelo compositor. Na adaptação para o alto guitar, optei por manter o original praticamente intacto, alterando a tonalidade uma terça menor acima: Fá Menor.

Adagio BWV 1056 é uma adaptação do segundo movimento do Concerto em Fá Menor para Cravo, escrito por volta de 1738. Conhecidos musicólogos afirmam que os Concertos para Cravo têm como base obras para violino, compostas no período em que Bach viveu em Cöthen. O arranjo para alto guitar segue o exemplo de Bach no Adagio BWV 974, justapondo a massa orquestral e a parte solista em um só instrumento. Este arranjo, especificamente, consiste em reduzir o acompanhamento orquestral, tocado em pizzicatos pelas cordas da orquestra, em acordes executados ao violão em staccato, enquanto a melodia segue em legato. A tonalidade original de Lá Bemol Maior é substituída aqui por Dó Maior.

Sinfonia BWV 795 figura entre as obras mais geniais e profundas de Bach. Sinfoniaé o título dado pelo compositor às invenções a três vozes. Nesta obra, Bach emprega o contraponto contrário/inverso, criando um verdadeiro caleidoscópio musical. A tonalidade de Fá Menor é substituída por dó menor neste arranjo para alto guitar.

Este é meu primeiro CD gravado para a GuitarCoop, e para celebrar a ocasião, escolhi como faixa bônus o Minuet HWV 434, de G. F. Handel (1685-1759). Handel e Bach nasceram no mesmo ano, a cerca entretanto de 130 quilômetros de distância; curiosamente, nunca se conheceram pessoalmente. Sabe-se que, em 1719, Bach viajou 35 quilômetros para encontrar Handel, entretanto ele já havia deixado a cidade. Em 1730, Wilhelm Friedemann Bach, o mais velho dos filhos de Johann Sebastian, viajou até Halle, e convidou Handel para visitar sua família em Leipzig.Essa visita, por motivos até hoje desconhecidos, nunca aconteceu. De todo modo, ambos são notáveis compositores do período barroco, e figuram entre meus compositores prediletos. O Minuet foi originalmente escrito para cravo; contudo a versão aqui apresentada foi feita a partir do arranjo de W. Kempff (1895-1991) para piano. A obra apresenta o baixo de lamento característico do período barroco, e é uma das pérolas da literatura musical barroca. Esta peça, em particular, deve sua grande popularidade à versão para piano realizada por Kempff.

Gostaria de finalizar com um agradecimento muito especial a toda equipe da GuitarCoop; este projeto se tornou possível graças ao trabalho e dedicação de todos. Estendo meus agradecimentos ao luthier Samuel Carvalho. Ao me presentear com dois violões de 11 cordas, Samuel me permitiu explorar o universo musical de J. S. Bach, mudando o curso de minha carreira como violonista e como amante do repertório barroco. Os instrumentos construídos por Samuel Carvalho tornaram-se mais que ferramentas de trabalho: eles permitiram que eu encontrasse uma expressão artística própria e pavimentaram um caminho que percorri ao longo de uma década, o qual me levou, para meu grande contentamento, até a música de Bach.

Paulo Martelli

São Paulo, January 31,  2017

Johann Sebastian Bach (1685-1750)

Sonata BWV 1001

1 – Adagio     (3:46)
2 – Fuga     (5:14)
3 – Siciliana (3:29)
4 – Presto     (4:44)

5 – Sinfonia BWV 795 (4:27)

6 – Adagio BWV 974 (4:26)

Suite BWV 1008

7 – Prelude (4:08)
8 – Allemande     (3:21)
9 – Courante     (2:08)
10 – Sarabande     (4:30)
11 – Minuet I & II     (2:51)
12 – Gigue     (2:33)

13 – Adagio BWV 1056      (3:22)

Bonus track:

G. F. Handel (1685-1759)

14 – Minuet HWV 434 (4:54)

* All works arranged for 11 string guitar by Paulo Martelli

Créditos

Idealização: GuitarCoop
Gravação: Auditório Unibes Cultural / Estudio Giba Favery
Datas: de 13 a 15, de 21 a 23, Outubro
Engenharia de som: Ricardo Marui
Mixagem: Ricardo Marui
Masterização: Homero Lotito
Produção Musical: Henrique Caldas
Textos: Paulo Martelli
Design Gráfico: Edson Vargas


Editoração Gráfica / Web Design: Eduardo Sardinha
Fotos: Ana Braga


Violão: Samuel Carvalho (2004)
Cordas: Augustine
Microfones: Royer SF-24, DPA 2006
Pré-amplificador: Millenia HV-3D
Monitoração: B&W 804
Amplificador: Anthem MCA 20
Cabos: Audioquest King Cobra

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