Edson Lopes

Minha estória começa em 1978. Eu estava começando a estudar violão, e estava naquela fase inicial onde tudo é difícil. Pensava mesmo em desistir. Minha mãe pianista, achando que eu tinha jeito para a coisa, continuava a me incentivar, mas eu estava meio desanimado.

Quis o destino que em um certo domingo não fizesse sol, e não deu praia. Tive que procurar o que fazer em casa, o que não era tão obvio nessa época pré-internet. Acabei ligando a TV, torcendo para entrar algum jogo de futebol ou coisa parecida, mas o que entrou foi uma transmissão de um concurso de violão patrocinado pela Globo. Eu e minha mãe começamos a assistir com interesse os candidatos, tentando aprender alguma coisa com o que estávamos vendo. De repente, entrou um candidato que imediatamente chamou a minha atenção. Atacou as variações de Sor com uma limpeza e uma beleza de som como eu nunca tinha ouvido ate então. Tocou o estudo 7 de Villa-Lobos como se fosse um passeio no parque. Uma maravilha. Minha mãe disse imediatamente: “é esse, não tem pra ninguém. Ele está muitos furos acima dos outros”.

Realmente não teve jeito, o cara ganhou o primeiro prêmio de maneira categórica, e durante semanas não se falou de outra coisa no meio violonístico do Rio. Aquilo me inspirou, me deu um novo impulso, e fez com que eu quisesse tocar daquela maneira também. O impacto que aquele cara teve naquele momento foi importante, e talvez sem isso a minha estória teria sido diferente. Mas quem era esse cara? Sim, ele mesmo, Edson Lopes. Edson nasceu em São Paulo em 1957 e diplomou-se pelo Conservatório Dramático e Musical de Tatuí – SP em 1978, mesmo ano em que venceu o aquele 2º Concurso de Jovens Instrumentistas na Globo e um outro concurso nacional de violão promovido pelo Banco do Brasil. Aliás, foi 1º colocado em todos os concursos de que participou. Em 1979 foi a Santiago de Compostela, na Espanha, para estudar sob orientação de José Tomás, assistente do mito Andrés Segovia. Nesse curso, deram-lhe o prêmio de “aluno mais destacado”, uma bolsa de estudos para voltar ao curso do ano seguinte. A lendária violonista argentina Maria Luísa Anido descreveu Edson como “um extraordinário violonista, que a deixou surpresa por sua segurança técnica, domínio instrumental, delicadeza sonora e deliciosa técnica interpretativa”.

Para a minha surpresa, esse violonista que a todos empolgou sumiu de repente, e eu perdi o contato com a carreira dele. De repente, foi a minha grande sorte, porque apesar do Edson ser um pouco mais velho do que eu ele poderia perfeitamente ter participado de vários concursos internacionais na década de 80, e certamente teria chance de ter ganho vários deles. Edson Lopes voltou a residir em Tatuí, desta vez como um admirado professor no mesmo Conservatório, onde também dirige a Camerata de Violões. Em 2003 licenciou-se pelo Trinity College of Music em Londres. Nos anos seguintes tornou-se integrante do Quarteto Brasileiro de Violões, excelente grupo com o qual fez várias turnês nos EUA, México, Hong Kong e Europa. Mais recentemente formou o Quarteto Vivace Brasil, de flauta, dois violões e percussão, que também tem recebido elogios em suas turnês americanas. Porque eu estou contando isso tudo aqui? Porque um amigo me mandou uns links para vídeos do Edson, onde parece que ele postou vários vídeos recentemente. Para a minha alegria, estava tudo lá: o mesmo som maravilhoso, bom gosto musical, técnica apurada, alegria de tocar, limpeza de som, coloridos, timbres etc. Enfim, um violonista completo, como poucas vezes eu vi na vida, e que me dá imensa alegria de escutar, mesmo quando eu discordo das interpretações. Nesses tempos de sons artificiais, mesmices, medo de errar, etc., esses novos vídeos do Edson são uma lufada de ar fresco. Quem ainda não viu, que vá lá correndo e ouça. Vale a pena.

Em tempo: estive com o Edson apenas uma vez na vida, rapidamente, cumprimentado-o depois de um recital de duo com a Ângela Muner. No entanto, quero registrar aqui os meus cumprimentos pela musica maravilhosa que ele continua a produzir, e desejo que esses vídeos inaugurem uma fase nova na carreira dele, em que mais gente o conheça e aprenda que o Brasil tem um grande violonista que não fica nada a dever a nenhum dos caras que estão circulando por ai.

Parabéns, Edson! Não suma não, fique com a gente. O violão atual precisa de mais gente como você. Obrigado pela inspiração em 1978.

Abração. 

Por Marcelo Kayath