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Americas – Fabio Zanon Guitar

A ideia deste CD nasceu durante um evento esportivo. Músico que sou, meu talento para esportes é, com muito otimismo, sofrível, mas me contento em ser um espectador de esportes olímpicos, e fiquei bem entusiasmado com os Jogos Pan-Americanos realizados no Rio de Janeiro em 2007.

Se no esporte, por um lado, há um confronto, ao mesmo tempo isso se estabelece sobre uma base de respeito e confraternização, onde cada atleta se torna uma espécie de artista ao se propor a superar seus próprios limites e alcançar novos patamares, a despeito de considerações práticas. É o paradoxo de uma busca individual que beneficia e abrange a coletividade.

O Pan nos deu uma oportunidade de voltar nosso olhar para os países vizinhos que, dada a posição geopolítica do Brasil, nos parecem distantes. O Pan encheu nossas ruas com gente de culturas afins, mas com quem raramente interagimos. Foi dos raros momentos em que países, alguns pequenos, que estão ausentes de nossas preocupações diárias e dos noticiários, viveram um momento de protagonismo. É bom encontrar pessoas e conversar sobre Trinidad e Tobago ou El Salvador.

Fiquei a me perguntar por quê o mesmo não se passava com a música. Nem falo de um intercâmbio musical mais intenso; falo de uma cultura de música clássica que volta o olhar para a Europa, e das várias formas de música popular em inglês que são parte de nosso dia-a-dia, enquanto pouco sabemos da música das Américas. O violão até tem a música das Américas como algo central em seu repertório, mas é um cânone bem restrito e as formas locais de expressão ainda são um livro fechado.

Coincidentemente, nos anos seguintes tive a sorte de visitar pela primeira vez vários desses países. Deixamos um pouco de nosso coração em cada lugar que visitamos, mas trazemos conosco uma preciosa bagagem. São novos amigos, música que não se conhecia, arte acadêmica e popular, e a afetividade que só quem compartilha um modo de vida pode cultivar. Foi com esse afeto que o este repertório começou a tomar forma.

Cada pequena obra deste CD tem uma razão para estar aqui, um mini-enredo por trás, mesmo aquelas vindas de lugares onde ainda não estive.

Algumas marcam uma história de afinidade musical e pessoal, como as composições dos queridos Marco Pereira e Paulo Bellinati e os inspirados arranjos de Victor Villadangos, Carlos Pérez, Eduardo Fernández (que também me apresentou à música de Gentil Montaña), Rey Guerra e Carlos Barrientos. Há a música dos grandes nomes da música sinfônica nacionalista, como Manuel Ponce, Eduardo Fabini e Eduardo Caba; sou particularmente grato ao violonista boliviano Piraí Vaca por me apresentar à música de Caba, cultivada nos Andes, que surpreende quem não tem notícia da música boliviana do século XX.

Há outra espécie de gigante, os compositores-violonistas que esculpem uma identidade nacional em suas composições, como Antonio Lauro, Juan A. Rodríguez e Agustín Barrios (cuja música tem feito parte de minha vida desde a primeira vez que ouvi violão clássico). Tive a sorte de conhecer pessoalmente alguns destes monumentos nacionais, como a fabulosa violonista argentina Maria Luísa Anido, o colombiano Gentil Montaña, genuíno herdeiro de Barrios, o salvadorenho Carlos Payés e o panamenho Francisco Velásquez (cuja música já conhecia, graças a um violonista panamenho que mora em Salvador da Bahia). Não pude conhecer pessoalmente Carlos Bonilla no Equador, mas um estudante me entregou uma cópia de sua peça como se estivesse carregando uma jóia; jóia que é, aqui foi incluída.

Algumas obras são tão evocativas que trazem à memória sabores, odores e sensações de espaço quando as toco. É o caso da peça de Fabini, do tango-canção de Gardel, que foi muito popular no Brasil nos anos 1970, e de Perla Marina, do trovador Sindo Garay, que me faz lembrar vividamente de minha primeira visita a Cuba, em 1990.

Por força das circunstâncias, nunca toquei profissionalmente na Argentina, na Venezuela e no Haiti, países de enorme diversidade musical. São homenagens. A peça de Juan Rodríguez figura no LP Abismo de Rosas, de Dilermando Reis; o número de pessoas que começaram a tocar violão ao ouvir Dilermando é inestimável – meu pai foi um deles. Conheci a Balada de Ariel Ramírez, trilha sonora do filme Martín Fierro, ouvindo uma gravação informal da professora argentina Monina Távora; aqui fica a homenagem a um modo individualíssimo de se tocar que não se reproduz hoje. Isso poderia ser dito também em honra do virtuose Alírio Díaz, falecido em 2016, a força por trás do violão venezuelano do século passado.

Eu nada sabia da música do Haiti até 2010, quando o país esteve nos noticiários por força de um devastador terremoto; nos anos seguintes, muitos haitianos afetados vieram morar no Brasil. Em homenagem aos imigrantes, que constituem uma das forças de nossa sociedade, incluí o monumental violonista haitiano, Frantz Casséus.

Uma outra espécie de homenagem é prestada através da canção de Frederic Hand. Um efeito colateral das muitas coletâneas musicais e exposições de arte latinoamericana é a exclusão dos Estados Unidos e do Canadá. Pode ser que, na realidade cultural do século XXI, estes países se “latinizem” gradualmente, ao passo que o mundo todo consome sua cultura de cinema, arte e música. Lesley’s Song é para aqueles cuja vida afetiva balançou ao som da trilha sonora universal do mundo do pop, folk e jazz americanos. Seria impossível dar conta de tanta variedade de estilo e sotaque, e não me atrevo a tentar reproduzi-los. Ficarei bem contente se cada compositor puder se reconhecer, de alguma forma, no carinho com que me dediquei à sua música.

 

Fabio Zanon

Repertório

1 PAULO BELLINATI (Brazil, 1950)
Emboscada (Xaxado) 3’44

2 CARLOS GARDEL (?,1883?-1935) & ALFREDO LE PERA (Brazil 1900-1935), arranged by Victor Villadangos
Dia que Me Quieras 6’34

3 JUAN ÁNGEL RODRÍGUEZ (Argentina, 1885-Brazil, 1944) Coral del Norte (Zamba Chilena nº1), op.29 2’37

4 AGUSTÍN BARRIOS “MANGORÉ” (Paraguay 1885-El Salvador 1944) Danza Paraguaya 2’31

5 GENTIL MONTAÑA (Colombia, 1942-2011) Suite Colombiana nº 2: IV – Porro 3’10

6 ARIEL RAMÍREZ (Argentina, 1921-2010), revised by Irene Costanzo Balada para Martín Fierro (Aire Sureño) 2’58

7 Anonymous from Chile arranged by Carlos Pérez (Chile, 1976) Parabienes (Ya se Casaron los Novios) 1’30

8 EDUARDO FABINI (Uruguay, 1882-1950), transcribed by Eduardo Fernández Triste nº 1 4’40

9 MARIA LUÍSA ANIDO (Argentina, 1907-Spain, 1996) Aire Norteño 1’22

10 RAFAEL MIGUEL LÓPEZ (Venezuela 1907-2002), arranged by Alírio Diaz Así Yo Te Soñé (Valse-Canción) 3’12

11 MANUEL M PONCE (Mexico, 1882-1948), edited by Jésus Silva Estrellita 2’41

12 Folk dance from Honduras arranged by Carlos Barrientos (Honduras, 1954) A La Capotín (Xique) 2’36

13 SINDO GARAY (Cuba, 1867-1968), guitar version by Rey Guerra Perla Marina 3’25

14 MARCO PEREIRA (Brazil, 1950) Bate-Coxa 2’59

15 CARLOS PAYÉS (PAYET) (El Salvador, 1940) Lejania 2’44

16 FRANCISCO VELÁSQUEZ (Panama, 1948) Pasillo nº 1 2’49

17 CARLOS BONILLA (Ecuador, 1923-2010) Solo Tu (Pasillo) 3’17

18 ANTONIO LAURO (Venezuela, 1917-1986), revised by Alírio Diaz Virgílio (Bambuco Tachirense) 2’38

19 EDUARDO CABA (Bolivia, 1890-1953), transcribed by Piraí Vaca Aire Índio nº 2 4’03

20 FRANTZ CASSÉUS (Haiti, 1915-USA, 1993) Dance of the Hounsies 2’58

21 RODRIGO RIERA (Venezuela, 1923-1999) Preludio Criollo 3’49

22 FREDERIC HAND (USA, 1947) Lesley’s Song 3’39

TOTAL  TIME: 70’00

Todas as músicas comentadas por Fabio Zanon. Assista!

Ficha Técnica – Americas

Idealização – GuitarCoop
Gravado na Sala Boa Vista, São Paulo, Brazil
Datas – Abril e Maio 2018
Engenharia de Som – Ricardo Marui
Produção Musical – Henrique Caldas
Edição – Henrique Caldas
Mixagem – Ricardo Marui
Masterização – Homero Lotito – Reference Mastering Studio
Textos  – Fabio Zanon
Design Gráfico e Web – Eduardo Sardinha
Fotos e Vídeos – Eduardo Sardinha
Editoração Eletrônica – Patricia Millan
Violão – Hermann Hauser II 1971
Cordas – Augustine
Microfones  – Royer SF-24, DPA 2006
Sistema de Gravação – Metric Halo LIO-8
Pré-amplificador – Millenia HV-3D
Cabos – Van den Hull D-102

Agradecimentos
Marcelo Kayath, Ricardo Dias, Sérgio Abreu.To all people who have generously presented me with printed music: Carlos Barrientos, Paulo Bellinati, Eduardo Fernández, Frederic Hand, Rene Izquierdo, Ivan Paschoito, Marco Pereira, Carlos Pérez, Marcos Puña, Piraí Vaca.

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